Se minhas loucuras tivessem explicações.

Nikki estava sem fazer nada e a comunal parecia um lugar muito chato para se ficar, então decidiu dar uma escapada, quem sabe tomar um banho de lua apenas de roupas intimas a beira do lago negro. Sim isso parecia a opção perfeita, assim pegou um lençol para não se sentar na grama e saiu de pijama mesmo da comunal da forma mais silenciosa que podia.

Caminhava então em direção a porta de saída do castelo quando viu uma luz subir a escada, um sorriso se desenhou em seu rosto ao reconhecer aquelas mechas morenas. Sem demora trocou seu destino por pura curiosidade quem sabe em algum momento poderia ferrar com aquele leão sem juba, assim nikki correu para alcança-lo o máximo que podia, tentando fazer o mínimo de barulho, porem ao se aproximar não percebia o que fazia barulho e logo sua iluminação vinda da varinha do rapaz se apagava, fazendo com que a menina dos cabelos rosados trombasse com uma das estátuas e caísse de bunda no chão ficando irritada e berrando.

--- Seu gato domestico do inferno tinha que apagar a luz, se alguém aparecer aqui e pegar nós dois eu juro que eu acabo com a sua raça.

Annikki ainda tinha um sotaque carregado finlandês mas dessa vez conseguiu se controlar e falar na língua que ambos compreendia, afinal um xingamento não compreendido não significava nada, mas por outro lado não conseguiu conter as mechas rosas que ficavam vermelhas e seus olhos se avermelhavam também, por conta de estar irritada, não com o garoto, mas sim por ter sido tão descuidada. A iluminação da varinha mostrava a aparência da garota para o rapaz que logo retrucava ainda brava

--- Pra que eu iria seguir você? eu ainda preciso encontrar um cachorro gigante para tentar cobrir ele nesse dia frio!

Falava tentando enrolar ele e mostrando o lençol de sua cama, porem as roupas da menina eram para uma temperatura completamente diferente do que ela falava, usava um shortinho curtinho e uma regata apertada, ambas com o símbolo de sua casa, sonserina assim como suas meias verdes que vinham até os joelhos acompanhada de um tenis de cano alto preto, estava de pijama e não contava com ser pega no meio do caminho.

What do they know of darkness?

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SWEET CREATURE

"Mas uma grande noite, não é mesmo Freya?" pegava-se pensando frente ao espelho enquanto passava delicadamente o pequeno pincel com delineador na pálpebra esquerda "Mais uma dança, mais um babaca bêbado querendo lhe tocar" o pequeno pincel era colocado novamente em contato com o líquido negro enquanto a menina esperava pacientemente alguns segundos passarem para que pudesse abrir o olho esquerdo revelando a coloração azul acinzentada do mesmo.

"Porque eu ainda estou nesta merda de vida?" pensava enquanto delicadamente fechava o olho direito e passava novamente o pincel com o líquido negro a fim de produzir uma espécie de linha vertical perpendicular à linha dos cílios "Porque não simplesmente chutar a porra do balde e ter uma vida normal como a dos outros?" ao término da linha, Freya colocou o pequeno pincel dentro de um recipiente e o girou no próprio eixo algumas vezes antes de fechar completamente protegendo o conteúdo do pequeno pote ── Freya, cinco minutos para entrar no palco ── a voz feminina de uma mulher ruiva interrompia os pensamentos da morena de forma a arrancar um longo suspiro da mesma ── Não me olhe com essa cara mocinha ── a mulher continuou prendendo um pequeno adereço de cristal nos fios negros de Freya ── Você decidiu entrar nessa vida para ter dinheiro e ninguém lhe obrigou, mas sabe agora a merda que é para sair ── um novo suspiro foi retirado dos lábios de Freya e a mesma olhou-se no espelho mais uma vez de forma a observar a imagem que via todas as noites. Uma bela mulher de olhos azulados e repleta de tatuagens que dançava solitária em uma boate para arranjar algumas gorjetas para se alimentar ── Ok Natasha... Você venceu. ── Freya deu-se por vencida retirando o robe de cetim vermelho que protegia o corpo ── Não existe uma maldita alma neste local que possamos chamar de pura ── esbravejou socando a mesa fazendo os pequenos detalhes da roupa balançarem de forma calma ── Criança, você está aqui a menos de dois anos ── Natasha iniciou acariciando o rosto da menor de forma suave ── Se acha difícil para nós aqui, imagina para os outros? ── Natasha riu fazendo Freya revirar os olhos enquanto esta pegava o batom vermelho colocado sobre a penteadeira improvisada nos fundos do camarim para as dançarinas.

Freya não era a mais bela dentre as meninas que trabalhavam na boate noturna, mas muitas das pessoas que iam apreciar sua dança diziam que a mesma tinha uma espécie de magnetismo sobrenatural que era quase impossível de se explicar, mal sabiam elas da verdadeira origem da pequena. Filha de Alicia Armstrong e um anjo que nunca soube o nome ao certo, Freya teve de se virar sozinha desde muito cedo, já que perdera sua mãe com pouco mais de doze anos de idade e a única coisa que sabia era sua origem semi divina "Porque caralhos eu ainda tento discutir com Natasha? " o barulho dos saltos ecoava pelo pequeno corredor que ligava o camarim até onde as meninas se alongavam para iniciar o pequeno show para os bêbados que invadiam noite após noite a boate "Mais uma noite... " Calmamente Freya sentava-se em posição de borboleta, algo que aprendera vendo as meninas naquele local e aos poucos forçava os joelhos em direção ao chão a fim de esticar e aquecer os músculos "Mais uma noite servindo de espetáculo para eles " a respiração aos poucos tomava um ritmo mais lento de forma a auxiliar a morena a aquecer as pernas sem dificuldade, mas sua mente começou a devanear de uma forma que nunca havia acontecido antes ── Freya... ── Uma voz doce e suave começou a lhe chamar ── Freya... Venha aqui ── a voz novamente sussurrava chamando pela morena ── Minha doce Freya... ──

Na frente de Freya, a imagem de uma casa pequena e bem decorada se formava. O odor de um bolo recém-feito invadia as narinas de Freya trazendo-lhe uma estranha nostalgia que nunca mais voltaria ── Freya, minha filha. Onde esteve? ── Os cabelos negros de Alicia voavam calmamente ao sabor do vento que entrava pela janela entreaberta ── Mamãe? ── a voz escapou pelos lábios de Freya fazendo com que a menina olhasse a própria imagem no espelho. Estava novamente em seus doze anos de idade, e Freya sabia que dia específico era aquele ── Freya, você não respondeu minha pergunta ── Alicia perguntou novamente enquanto a menina limpava a poeira do vestido verde que usava ── Estava voando novamente por ai? ── Freya balançou a cabeça de forma negativa ── Já não disse outras vezes para que não usasse suas asas por ia? ── Alicia reclamava colocando a mão suavemente sobre os cabelos da filha ── Existem pessoas ruins minha filha... ── os dedos finos da mulher acariciavam a cabeça da menor ── E você é especial demais minha filha... ── Alicia continuou, mas ao Freya olhar no rosto da mulher, tudo o que via era um enorme borrão que só emitia som ── Eu te amo, meu anjinho ── um suave beijo foi depositado na testa de Freya. Um solavanco foi dado na morena ── Vadiazinha... Acorda ── a voz rude do dono do local era ouvida despertando a menina do devaneio e fazendo a mesma querer socar a cara do homem ── É sua vez, Vadia. E dessa vez, faça um bom show. ── Com raiva, Freya estapeou a mão do homem levantando-se sozinha ── Não me toque, babaca. ── Freya levantou-se de forma calma acertando a roupa negra que vestia. Sua mente havia blindado-se uma vez mais contra os gritos dos bêbados alheios que gritavam por seu nome " Chegou o maldito momento" a morena pensava enquanto os saltos dourados batiam de forma lenta contra o piso amadeirado da pista previamente preparada para ela naquele momento "Vou voar sem usar minhas asas..." pensava mais uma vez enquanto se aproximava pouco a pouco do poste de metal posicionado no centro do mesmo "Novamente entreter esses bêbados por mais uma noite." Com o toque da mão de Freya no metal frio, as vozes e gritos se calaram até o início lento e os primeiros passos sensuais da morena.

Cerca de três minutos foram necessários para que a coreografia lenta terminasse, um longo suspiro escapou dos lábios de Freya e uma longa salva de palmas foi dada em direção a mesma que agradecia de forma automática "Lixos humanos" Freya pensou enquanto se retirava do local sobre a chuva de notas e notas que eram jogadas em sua direção ── Desta vez eu não vou te entregar sua gorjetas, Vadia. ── o homem que outrora havia chamado pela garota agora fechava a passagem da mesma para o camarim ── Se quer todas, pode Enfiar elas no centro de seu cu. Mas fique sabendo que eu não vou dançar se elas não aparecerem em minhas mãos amanha ── Freya finalizava deixando o homem sozinho e preparando-se para voltar ao pequeno apartamento onde morava solitária "De volta ao doce lar..." pensou no final da noite enquanto andava sozinha.

coreografia citada: